segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O poeta adiado

Para ser um homem sério
pus de lado a poesia
erro crasso
poucos assuntos são mais sérios do que a livre expressão
do tudo e nada

A poesia veio-me com a barba
no tempo da puberdade
do primeiro coração conquistado e destroçado nasceram os poemas
infantis
doces
de ontem

Já deixara para trás
o mamar na esperança
o brincar na rua
o peão, a corda, a bola e o Alentejo

Depois veio o tempo dos poemas
uitos e sentidos
para ela, ela e ela
E quando Ela chegou a poesia era já fria em mim

Chegou ainda o tempo de partir
de vestir de negro
de estudar os livros e as novas pessoas

Veio o tempo dos tostões
um por cada litro de suor

E o tempo do amor
e os poemas lá atrás
à custa da seriedade

E veio o tempo de arrumar lágrimas
pegar na mão de moribundos
e de carregar caixões
pesos ausentes

E um dia
que pode ser hoje
ou amanhã
ou para ano
cansei-me da seriedade
de todo a rebentar por dentro
e voltou a nascer um poema
adiado


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